quinta-feira, 13 de março de 2014

“Depois de Auschwitz”, Eva Schloss.

“Naquele momento, decidi que eu não seria uma vítima, apesar de tudo o que havia acontecido comigo. Nunca permitiria a mim mesma ter uma mentalidade dessas – era quase aceitar o papel de total desamparo que os nazistas queriam que sentíssemos. Eu não era impotente. Eu era uma sobrevivente.” (trecho do livro)


Estarrecimento.
Esse foi meu sentimento ao ler essa obra magnífica. Nunca li nada igual. Me emocionei da primeira folha à última. Fiquei pasma com as atrocidades. Os fatos me chocaram e muitas vezes senti até uma certa revolta.

Já li outros livros que tratam dos acontecimentos terríveis durante a Segunda Guerra Mundial – todos foram muito bons, se é que se pode dizer ‘bom’ para histórias com um pano de fundo terrível como esse, mas o que quero dizer, é que todos foram ótimos livros, mas jamais pensei em ler um relato real de uma sobrevivente ao holocausto, com os detalhes mais incríveis e assustadores.

Quanto leio algo sobre a Segunda Grande Guerra me questiono o motivo de tanta loucura – sim, só pode ser loucura, pois não tem explicação. Nada do que me disserem vou aceitar como “possível”. É muita atrocidade. A reflexão a partir desse livro é no sentido de que o preconceito, o ódio, a intolerância foram capazes de coisas horríveis no passado, mas e hoje? Será que estamos livres de coisas desse tipo? Temo em dizer que não. Infelizmente. Ainda hoje as pessoas se matam por 'uma galinha'. Famílias são dizimadas e separadas por ódios e ciúmes descontrolados. A ganância, o poder e o dinheiro comandam todos os setores da sociedade.

 “Anne Frank escreveu no final de seu diário, pouco antes de ser capturada, que ainda acreditava que as pessoas tinham bons corações, mas eu me pergunto o que ela pensaria se tivesse sobrevivido aos campos de concentração de Auschwitz e Bergen-Belsen. Minhas experiências revelaram que as pessoas têm uma capacidade única para a crueldade, brutalidade e completa indiferença aos sentimentos humanos. É fácil afirmar que o bem e o mal existem dentro de cada um de nós, mas eu vi a realidade de perto, e isso me levou a uma vida de questionamentos sobre a alma humana.” (trecho do livro)

Sempre começo os livros fazendo uma “inspeção” na obra... Leio as orelhas, contracapa... Nesse livro, ao ler esses fragmentos já me arrepiei. Ao ler o prólogo percebi que eu já estava completamente envolvida pela obra e a leitura avançou pela noite, pois foi impossível largar, mesmo com os insistentes chamados de meu marido para que eu fosse dormir.

Emocionei-me em várias passagens da história – e agora escrevendo isso, me emociono novamente. É impossível não pensar em tudo que li sem sentir um aperto no peito. Do início ao fim da obra me senti fazendo parte daquele horror. Quando Eva se referia ao cheiro que sentia, eu inspirava, pois tinha a nítida impressão de que também o sentiria. O vazio que ela relata, a angústia, a ansiedade... tudo é possível sentir. Durante todo o livro eu me perguntei se eu teria sobrevivido naquela situação. Quanta dor.

Não me admira que depois dela ter vivido tudo aquilo – que não há adjetivo capaz de descrever fielmente, ela não se importe na existência ou não de Deus. Depois daquilo tudo, não sei se é possível acreditar em alguma coisa - não me levem a mal, eu creio, tenho fé e acho indispensável essa minha religiosidade, mas consigo compreender perfeitamente a perda da fé de Eva.

Em resumo, o livro é a biografia de uma menina que desde seus 09 anos fugiu das perseguições antissemitas e no dia de seu aniversário de 15 anos foi capturada (junto com sua mãe, pai e irmão) e levada para Auschwitz – o maior campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

O relato é emocionante e as mensagens edificantes são ensinamentos pra toda vida. Não pense que o livro é só desespero, afinal, ele conta a história real de uma sobrevivente, a sua coragem, a sua vontade de viver, o seu entusiasmo. É gratificante saber como Eva seguiu sua vida após viver tudo aquilo e como deu a volta por cima, superando traumas que penso que seriam praticamente impossíveis de se apagar.

O livro é incrível e impressionante. Quem me conhece sabe que sou muito intensa... Mas reafirmo: esse livro é muito mais que se pode imaginar. Na verdade não é um livro. É um documento histórico.

Recomendo essa leitura. Depois dessa leitura certamente você nunca mais pensará da mesma forma.


6 comentários:

  1. Obrigada Lisiê adorei o post e já inclui este na minha lista. Me senti exatamente assim quando li Holocausto brasileiro da Daniela Arbex.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Sil! O livro é realmente incrível! Esse que vc mencionou eu não conheço, vou procurar! Bjo

      Excluir
  2. Terminei hoje de ler esse livro. Minha amiga me deu de aniversário.
    Realmente eu não consigo para de pensar tudo e não posso imaginar a dor e medo que ela sentiu pois o máximo q eu conheço da dor, jamais chegará perto do que ela sentiu.. Eu não sei se suportaria tudo o que ela viveu..
    Cheguei neste post pois no livro, acho que ela comenta de umas duas ou três pessoas que perguntam se ela acredita em Deus,e ela simplesmente não responde no livro, isso me comoveu muito. Eu acredito em deus e também penso da sua forma que talvez, eu tbm no lugar dela, iria questionar a existência dEle, mas não sei, realmente.. Mas o que me intriga é que esse sentimento de fé e esperança, que ela sempre sentiu( pois sem esperança ela ñ teria sobrevivido, fato), para o meu entendimento, se relacionam diretamente em acreditar em Deus... outro dia eu vi um filme normal que um cara gostava de pescar, amava pescar, mas dizia q não acreditava em Deus, aí um outro o questiona "o que te faz ficar por horas esperando fisgar um peixe?" e o moço responde:"eu espero pois sei que uma hora irei fisgar".. aí esse que fez a pergunta responde questionando: "isso seria fé? esperança?" aí o outro "sim" aí ele diz, "como vc pode ter fé e não acreditar em Deus?"
    É isso q eu me questiono, não julgo a Eva por isso, mas eu penso que se ela teve forças pra continuar e sobreviver a isso e por diversas vezes dizer que só foi salva por um milagre, então, ela acredita em Deus sim. Eu concluo isso, apesar dela não assumir, ela reconhece que teve fé, esperança e por milagre ela sobreviveu a tudo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Com certeza Regiane... também acho que a fé a salvou... pois sinceramente não sei se de outra forma ela se salvaria! Obrigada por acessar e comentar no blog! Seja bem-vinda sempre!

      Excluir
  3. Depois deste texto sou obrigado a ler este livro. Parabéns pelo blog e pelo texto, vc escreve (e lê, rsrsrsrs) muito bem!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada Giordano! Fiquei muito feliz com sua visita no blog, e ainda mais com o comentário! Se puderes leia o livro. É impressionante. Eu me emocionei muito... sonhava com tudo aquilo e me colocava no lugar dela. Eu acredito que eu não sobreviveria a tanto horror. Um grande abraço e seja sempre muito bem-vindo ao blog!

      Excluir